Flaviana Tannus - 1968
A Valsa
Atualizado: 28 de set. de 2021
Abril é primavera em Paris. Regressar e defrontar-se com o desabrochar das cerejeiras, as esculturas espalhadas pela cidade e a exuberância da arquitetura com seus gradis, frontões e boussages de pedras, ainda fascina Joyce. Há seis anos ela participou de um curso no museu d’Orsay de história da escultura na França séculos XVIII ao XX enquanto Thomas cursou um MBA na Insead-Fontainebleau. Viveram em Paris no período das quatro estações. No curso Joyce conheceu a vida e obra de Camille Claudel. Quando retornou ao Brasil ingressou no mestrado em psicanálise e arte da UFRJ. Desta vez, retornou a Paris sozinha.
O TER – trem regional do SNCF para Nogent sur seine, parte da Gare de L’est as nove horas e quarenta e dois minutos. Oito graus é a previsão da temperatura. Em cinquenta e seis minutos Joyce chegará ao Vilarejo que Camille Claudel viveu com a família dos doze aos quinze anos período que Alfred Boucher, primeiro escultor que reconheceu o talento de Camille, tanto molde para fundição de peças em bronze, quanto para esculpir o mármore. Joyce veio conhecer a obra de 1889 que marcou o traço disruptivo de Camille, tema de seu mestrado. A valsa.
Com o sol, a temperatura sobe. Doze graus. Joyce segue a pé devagar da estação à Rue Gustav Flaubert número 10. Curiosa coincidência: Gustav Flaubert, autor de Madame Bovary, visitava regularmente os primos que viveram no vilarejo na época que Camille viveu ali, de 1876 a 1879. Joyce caminha por trinta minutos o trecho de um quilometro. Parece que não quer chegar ao museu. Economiza passos e guarda o espaço da experiência que está por vir, como chegar as páginas finais de um bom livro ou degustar devagar um prato que aceda a memória afetiva.
Ao virar o quarteirão, os olhos marejados deitaram sobre a construção contemporânea de vidro, aço, tijolo e no paisagismo jovens arbustos com tímidos brotos. O arquiteto moldou na cidade o traço que Camille provocou com a própria história: solitária imponência.